20 dezembro 2019

2020: um reinício

A cada dia, o amanhecer nos convida a participar da grande alegria de viver. Aqui e acolá, ouvir os pássaros cantando, ver o orvalho fazendo brilhar as plantas no nascer do sol, o ir e vir das ondas do mar, sentir a brisa fresca que reconforta. De fato, estamos um pouco anestesiados com nossas rotinas de metas, obrigações e desejos, para participar da verdadeira festa que a natureza nos apresenta a cada dia. No entanto ela prossegue, e o seu encanto se perpetua reproduzindo o ciclo vital. 

Nós, seres humanos, também participamos do ciclo da vida com os demais seres da natureza e, desde que nascemos e nos integramos à comunidade da vida, estamos fazendo trocas com o meio, respirando, consumindo energia dos alimentos. Dependemos do mesmo sol, da mesma água, da mesma atmosfera que a biodiversidade de fauna e flora que povoam o planeta.

Embora o ritmo da vida natural pareça inalterado para um olhar superficial, ao longo dos anos a natureza tem sofrido graves mudanças e o ser humano é o principal fator que atua negativamente sobre esse quadro, ao mesmo tempo em que também é impactado por essas mudanças. São evidentes as alterações que vem acontecendo nas paisagens e no clima, além dos impactos indiretos na atmosfera e oceanos cujos reflexos temos mais dificuldade em perceber.

A geração daqueles que nascem nos dias atuais não terá chance de ver e conviver em espaços naturais como os que existiam há três décadas, já não poderá usufruir das mesmas paisagens e dos mesmos remansos de água. As crianças dos novos tempos não brincarão entre as araucárias ou pescarão nos riachos (antes tão comuns nas nossas terras), pois é muito provável que conheçam apenas o verde monocromático das plantações mecanizadas que predominam nos campos e os espaços urbanos, cada vez mais cinza. É provável também que conheçam os grandes mamíferos apenas pelas telas dos equipamentos digitais e que a sua experiência com seres animais se reduzam ao convívio com os animaizinhos domésticos de apartamento.

Estamos encerrando um ciclo importante. 2019 foi um ano que transcorreu em meio a muitos desafios, em especial com relação à sustentabilidade ecológica do nosso modo de vida. Várias regiões do país sofreram com a seca e as queimadas, as populações litorâneas foram surpreendidas com as manchas de óleo no mar e nas praias, agricultores perderam lavouras em função das mudanças do clima, entre outros acontecimentos como os catastróficos deslizamentos de terras e enxurradas das barragens que deixaram cidades inteiras inundadas e soterradas, que foram notícia constante. Não menos impactantes foram os desastres decorrentes dos intensos eventos climáticos ao redor do mundo.

A grande diferença entre humanos e os outros seres vivos é a autoconsciência e a capacidade de estabelecer estratégias de ação, propósitos, objetivos que tornem a vida melhor para todos. Temos o dever de valorizar o que a natureza nos proporciona e como seus integrantes contribuir da melhor forma para manter a integridade dos seus ecossistemas e a resiliência ecológica.

É importante que entre as nossas “promessas de ano novo” esteja presente o compromisso de compreender e agir a partir da nossa realidade para promover a sustentabilidade ecológica de modo consistente. Que nos coloquemos metas claras sobre mudanças de hábitos, participação comunitária, discussão crítica e posicionamento a fim de levar para níveis mais amplos o debate e as questões que dizem respeito a todos – a proteção ecológica dos ecossistemas – que são a condição elementar para que possamos ter uma existência digna e feliz.

A vida que se repete a cada dia nunca é igual. Não obstante, a qualidade do ambiente natural em que vivemos depende do modo como desenvolvemos nossas atividades, de como nos relacionamos nesse meio e com a própria natureza. Podemos florescer com as primaveras, rebrotar a cada ano, assumir posturas acolhedoras e calorosas uns com os outros, traduzir em harmonia e alegria o nosso viver, ou, simplesmente ignorar os nossos elos com o mundo natural e fazer naufragar com ele nossas aspirações de humanismo e felicidade.