05 novembro 2019

Soluções compartilhadas para um mundo sustentável – uma prioridade

O modo com que a humanidade tem avançado sobre a natureza de forma ávida e violenta para obter produção e lucro é de todo inconsequente. Essa constatação já remonta meio século, quando da Conferência de Estocolmo (1972), de onde resultou o conceito de “desenvolvimento sustentável”. 

A compreensão dos limites planetários, no sentido de que, entre a demanda por recursos naturais e a sua renovação, é preciso respeitar o ritmo próprio e as condições de reprodução das espécies, sejam vegetais ou animais, no entanto, ainda não aconteceu plenamente. Continuamos a superexplorar a natureza e a marcar nossa presença de forma negativa sobre o ecossistema – deixando a nossa pegada ecológica. Os registros do aumento da emissão de CO2 e outros gases poluentes na atmosfera, ao longo das últimas décadas, retratam essa contradição.

Embora a maior parte dos países que compõem a ONU tenham compromissos com a sustentabilidade e as normas internacionais recomendem comportamentos nesse sentido, as medidas internas em cada país acabam por tomar caminhos diversos. O que vemos é uma interpretação das questões ecológicas como um problema de segunda ordem, que não tem urgência ou mesmo um interesse concreto. Assim, embora formalmente compromissados com a sustentabilidade, cada país acaba por negligenciar a sua parte e acusar ou relegar aos outros, usando o argumento de que são “mais ricos”, “mais poluentes”, “mais tecnológicos”, “mais culpados”, por exemplo, e que a eles cabe a obrigação de sanar os problemas da crise ecológica.

Há uma série de equívocos nesse raciocínio e principalmente na omissão que dele decorre: 

Primeiro – Não é uma crise sanável, mas podemos amenizar os seus danos e promover uma adaptação mais segura para as condições ambientais adversas. A degradação ambiental e o seu prejuízo à biodiversidade já afetam a natureza de modo a interferir gravemente nos serviços ecossistêmicos desempenhados naturalmente quando ela está em equilíbrio. 

Segundo – Não é problema alheio. As causas da crise ecológica não podem ser atribuídas a um ou outro agente ou país de forma isolada. O modelo de produção e consumo baseado no extrativismo e nos combustíveis fósseis é um problema para o qual todos contribuímos em diferentes medidas, alguns pela forma de produção, outros pela devastação da natureza que poderia equilibrar os danos, por exemplo. Todos estamos contribuindo para o desastre ecológico, para a falta de água e contaminação dos alimentos: portanto, somos todos responsáveis.  

Terceiro – Não se faz nada sozinho. Trata-se de um problema sistêmico, que requer soluções sistêmicas, isto é, que envolvam os diferentes instrumentos das estruturas econômica, social e ambiental para sua governança. Por essa razão, a sustentabilidade é referida como um objetivo global, que requer planejamento e execução de ações no âmbito das políticas públicas e da sociedade nas diferentes esferas de atuação, repercutindo globalmente as práticas locais.

Quarto – Não é um problema abstrato e longínquo. Estamos bastante lentos e mesmo atrasados nas respostas que precisamos dar para tornar habitável nosso planeta para as próximas gerações. Os problemas que enfrentamos atualmente devem tornar-se ainda mais graves em função da intensidade e frequência dos eventos climáticos decorrentes da devastação ambiental que estamos promovendo. As previsões do IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas são de que, mesmo que o aumento da temperatura terrestre fique em 1,5o C, os problemas decorrentes do degelo do permafrost no Ártico e desertificação, como escassez de água, incêndios frequentes e falta de segurança alimentar deverão ser enfrentados. Atualmente cerca de 500 milhões de pessoas habitam regiões em processo de desertificação – nada mais “real” do que isso.

Contemplar de fora esse quadro catastrófico sem se envolver é contribuir para o sofrimento de milhões de pessoas e para a destruição dos seres da natureza, que são vítimas do nosso modo abusivo de habitar o planeta. Combater esse destino triste que está retratado nos relatórios científicos requer que, coletivamente, busquemos organizar outros modos de nos relacionar, considerando a natureza em nossa própria vida.

É urgente construirmos relações harmônicas com a natureza e isso passa pelo compromisso oficial e real de cada país, pelas atitudes pessoais e pelo exercício da cidadania, desenvolvendo soluções alternativas comunitariamente compartilhadas e ao mesmo tempo exigindo posicionamento e políticas públicas para promover a sustentabilidade.

A natureza em sua biodiversidade é geradora de vida – cabe a nós agirmos ecologicamente para que a espécie humana não seja sacrificada pela sua própria omissão.

  1. https://nacoesunidas.org/conferencias-de-meio-ambiente-e-desenvolvimento-sustentavel-miniguia-da-onu/
  2. https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/10/ciencia/1570701640_165943.html?fbclid=IwAR23joWQ6CVvf3wPh-f_1BbbdNoE8yV9XtvWROWBHpnVuvh1LtD446GDn0k
  3. https://350.org/pt/relatorio-especial-do-ipcc-onu-destaca-a-relacao-do-uso-da-terra-com-as-mudancas-climaticas/