20 dezembro 2019

Tesouros perdidos

Mico-leão-dourado, ararinha-azul, onça pintada, estão entre os tesouros inestimáveis que a biodiversidade brasileira vem perdendo em questão de poucas décadas. Segundo a IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza, atualmente há mais de 30.000 espécies que estão sendo ameaçadas de extinção ao redor do mundo.

A ameaça não conhece fronteiras, o problema atinge animais de grande porte, mamíferos, peixes e aves ao redor do mundo. Foram considerados extintos em 2018 o Puma-oriental (da América do Norte), o Rinoceronte-branco-do-norte (natural da África), o Po o-uli (ave do Havaí), a Vaquita (espécie de golfinho da Califórnia), o Orangotango-de-tapanuli (de Sumatra), o Lobo-vermelho (sul dos EUA), e a Ararinha-azul (Brasil).

Segundo o ICMBio, até 2014 onze espécies animais foram extintas no Brasil, dentre elas sete espécies endêmicas brasileiras, e outras tantas estão sob ameaça. Entre as extintas estão o Tubarão-lagarto, o Tubarão-dente-de-agulha, a Perereca-verde-da-fímbria e algumas aves raras, como o Gritador-do-nordeste, a Araraúna, o Mutum-do-nordeste, a corujinha Caburé-de-Pernambuco, o Peito-vermelho-grande, o Limpa-folha-do-nordeste, e o Maçarico-esquimó, extinto ainda na década de 1990. 

Algumas das espécies que atualmente se encontram sob grave risco de extinção no Brasil são: a Araraju, a Ariranha, a Baleia-franca-do-sul, o Cervo-do-pantanal, o Gato-macarajá, o Lobo-guará, o Macaco-aranha, o Mico-leão-dourado, a Onça-pintada e o Tamanduá-bandeira.

As estatísticas indicam que a taxa de extinção da biodiversidade do período atual é a mais elevada da História, cem vezes maior que o normal, o que levou os cientistas a identificarem que está em curso a sexta grande extinção em massa. Os animais sujeitos a maior risco são aqueles cujo habitat é único ou raro, como é o caso das florestas tropicais e de ilhas isoladas. 

Os principais fatores reconhecidos como causas de extinção das espécies animais, além das atividades predatórias como a caça e a pesca em larga escala, são o desmatamento, a poluição e a destruição dos habitats, que acontece também pelas mudanças climáticas provocadas pela ação humana. Poderemos sobreviver à perda de tantas espécies? Queremos deixar esse legado negativo às futuras gerações? O que podemos fazer? – indagam-se os cientistas que pesquisam o problema. São questões sobre as quais também devemos refletir. 

As contribuições brasileiras para esse quadro são gritantes, no sentido da destruição e do descompromisso. Somente no último ano, 9.760 km2 foram desmatados no Brasil (corte raso), um percentual de 29,54% superior que o resultado em 2018. Os Estados que se destacam negativamente são o Pará, Mato Grosso, Amazonas e Rondônia, que juntos representam 84,13% das áreas desmatadas, conforme o INPE. 

É urgente mudarmos a percepção de que a vida humana independe do que acontece com a natureza. Países como a China e o Japão vêm enfrentando diariamente dificuldades para circular nas cidades, para trabalhar, estudar, realizar as tarefas cotidianas em função da intensa poluição do ar, da densidade populacional aliada à degradação ambiental. No Brasil, a cidade de São Paulo também é manchete pela poluição atmosférica. Cada vez mais presentes e danosos, assim como o fenômeno das secas, cada vez mais intensas no Brasil. Esses são os sintomas de um modelo inadequado, que leva à extinção da biodiversidade e ao adoecimento da população, afetando as presentes e as futuras gerações. 

Evitar que a própria humanidade seja vítima da extinção em massa da biodiversidade exige posicionamentos e atitudes no sentido da proteção das florestas e biomas: mantendo corredores ecológicos, resguardando da contaminação as nascentes, os solos, os mananciais, optando pelo uso de energias renováveis e sustentáveis, promovendo uma agricultura diversificada e evitando a plantação e proliferação de espécies exóticas, e principalmente, inibindo e punindo queimadas e desmatamento em áreas protegidas, que já estão sob proteção justamente por representarem uma área sensível e necessária ao equilíbrio ecossistêmico.